Sunday 12 September 2010

Chapter XXVII - Lappi

Após uma semana de férias AFK, deixo aqui um pequeno resumo do passeio pela Lapónia. Como prometido, será apenas um trailer. Não revelo grandes detalhes, não conto tudo o que fiz e muito menos vêm as fotos ;)

No passado dia 5 de Setembro arrumei a tralha, despedi-me das minhas meninas alemãs e italianas e segui para Helsinki com pouco mais do que a roupa que tinha no corpo, a carteira e a inseparável máquina fotográfica.

Enquanto fazia tempo para o comboio, diverti-me a passear de eléctrico. Uma maneira barata e confortável de ver grande parte da cidade. Também dei um passeio de metro até Vuosaari, com paragem em Itäkeskus no retorno ao centro. Por fim, umas voltinhas pelo Hakaniemi e pelo Kaisaniemi.

Eis que chega então um enorme comboio, denominado Santa Claus Express… Preparem-se, pois praqueles lados, everything is Santa Claus!

A morosa viagem de cerca de 11 horas foi passada a rebolar dum lado pro outro dormindo nas posições mais estranhas que possam imaginar, qual contorcionista ou praticante de yoga. Quando a fome apertou, tratei de a saciar com umas delíciosas almôndegas que vendiam no vagão restaurante/bar.

E finalmente cheguei a Rovaniemi, capital da Lapónia, uma pequena cidade localizada a poucos kilómetros do Círculo Polar Árctico, onde se dá a junção dos rios Kemijoki e Ounasjoki.

Como o alojamento mais barato que tinha consigo encontrar custava a módica quantia de 40€ SEM PEQUENO ALMOÇO, estava decidido a abancar pelas ruas e a dormir ao relento. No entanto, o meu destino foi outro. Ao sair da estação, abordei uma rapariga a fim de obter algumas direcções por ali. Fomos andando, conversando, e quando lhe disse que iria dormir pelas ruas, ela propos-me partilhar o sofá do apartamento dela com dois gatos. E assim fiz, logo eu que não gosto nada de gatos…

Como os transportes por ali são ainda mais caros que em Helsinki e são bastante escassos, tipo um autocarro por hora, a solução mais óbvia que encontrei foi a de alugar uma bicicleta para a semana inteira. Um par de rodas que me deu total mobilidade, bem como a liberdade de explorar toda a cidade e arredores.

Após uma visita breve ao posto de turismo, comecei a pedalar pela primeira vez em cerca de 2 anos. E pedalando encosta acima, cheguei à aldeia do Pai Natal, localizada precisamente no Círculo Polar Árctico. Nunca na vida pensei chegar a estas latitudes, mas certamente quero lá voltar. E o que é que eu fiz por ali? Ora pois claro, após uma dúzia de kilómetros pedalados, tinha que ir conhecer o velhote barbudo… Quem diria, a pessoa mais anti-natalícia que conheço foi visitar o tí Nicolau, esteve de conversa com ele e ainda tirou uma fotografia como prova!

Após me ter sida impingida a dita fotografia pela módica quantia de 25€, e já farto de ouvir as mesmas christmas carols que continuavam a tocar, segui para visitar outros pontos de interesse na Santa’s village: Santa’s Post Office, Husky Park, e um museu a céu aberto recriando habitações tradicionais Saami. Infelizmente de tudo o que eu queria ver só o posto dos correios estava aberto. Todas as cartas endereçadas ao Pai Natal vão parar ali, mesmo aquelas que escrevem por brincadeira.

Finda a visita por ali, toca a descer a colina em direcção a Rovaniemi. Os caminhos para ciclistas são uma maravilha, e a sensação de levar com o ar fresco na cara enquanto se observa a taiga é indescritível.

Como a descer todos os santos ajudam (insert Santa pun joke here), num instante estava de volta à cidade. Segui para sul, sempre maravilhado com a paisagem, até à Lapin Yliopisto – Universidade da Lapónia, o polo universitário mais a norte que existe no mundo. Aí me encontrei com a Riikka e seguimos para o apartamento dela, a poucos metros da universidade. Foi então que conheci os meus room mates: Vetti e Lenni. Um era gordo e branco, o outro era mais pequenino e preto; ambos eram extremamente fofos e mimosos. Ao anoitecer fomos a casa de umas amigas delas, a uma pseudo festa.

No dia seguinte, com as pernas doridas da bicicleta, passei grande parte do dia no Artikum. Trata-se de um museu sobre o Árctico que combina História, Ciência e Arte, de forma extremamente interessante e organizada. Almocei um kebab no Rocktaurant dos Lordi e passei o resto do dia em petiscos. Nesse dia festejava-se o 150º aniversário da Rovaniemen Kirjasto (biblioteca), e lá tinhamos café, sumo de morango, e um maravilhoso bolo de frutos vermelhos, lakka e chantilly. Além disso, mesmo ali ao lado, na Kaupunkitalo (Câmara Municipal), dava-se um evento de recepção aos estudantes estrangeiros. Infiltrei-me por lá, com direito a uma tarte/pizza de rena, uns bolinhos e mais café à pála. Após encher o bandulho, recebi uma mensagem da Riikka a convidar-me para um picnic à beira rio com os amigos dela, e lá fomos nós. Após o picnic, consegui deixar toda a gente interessada no bolo gratuito na biblioteca, e fomos todos para lá. Claro que eu tinha de emborcar mais um(as) fatia(s).

Quarta feira foi dia de pedalar a sério novamente. Segui mais uma vez para o Círculo Polar Árctico, mas desta vez passei primeiro no posto de turismo para me certificar que as coisas que eu queria ver estavam abertas. Comecei pelo Husky Park, onde estive rodeado por cerca de 60 huskies fofinhos e dois samoyedos ainda mais fofinhos. As donas do recinto foram bastante simpáticas, além de não me terem pedido os supostos 6€ pela entrada, ainda me ofereceram grilliimakarat e café. Após o petisco, e com vontade de trazer a bicharada toda comigo, lá fui ver as construções Saami e desci a Rovaniemi para o descanso do dia.

O dia começou um pouco mais cedo que o usual na quinta feira. Recebi um telefonema do posto de turismo pelas 9 da manhã, a confirmar que a quinta de criação de renas que eu queria visitar estava aberta a partir das 11h. Papei uns donuts e meti-me a caminho. Claro que o sitio tinha de ser a 12kms de casa e ladeira acima…

Com os bofes de fora, lá cheguei ao local. Conheci o dono da quinta e algumas das renas. São bastante fofinhas e sociáveis, ao ponto de virem comer à mão, mas não são bichos que primam pela inteligência… De acordo com o criador, por muito que se tente, elas nunca se habituam a responder pelo nome que se lhes dá; além de poder levar 3 a 5 anos até que elas aprendam a puxar um trenó. Após a chávena de café com bolinhos da praxe, regressei a Rovaniemi. Desta vez fui explorar a margem sudeste do rio, onde além do relaxante passeio pela floresta, pude visitar o Rovaniemin Museo e o Metsämuseo. O primeiro tratava-se de um pequeno museu etnográfico, retratando a vida numa pequena propriedade agrícola do séc. XIX, cujos edifícios ainda eram os originais, bem como a familia que a mantinha. O segundo era mais um museu a céu aberto sobre a vida dos lenhadores na Lapónia, com muitas casas recuperadas e alguns objectos que remontavam aos finais do séc. XIX e primeira metade do séc. XX. Estava tão entusiasmado que me esqueci de tirar fotos a estes dois museus, paciência…

E aproximava-se a hora de ir embora… fiz umas comprinhas durante a tarde, e preparei uma pequena surpresa para a Riikka. Como agradecimento por me ter recebido, arranjei uma garrafa de vinho do Porto (não encontrei vinho alentejano…), duas latinhas de comida XPTO para o Lenni e o Vetti, e um postal. Após nos encontrarmos, despedi-me dos miaus e seguimos para a house warming party de um amigo dela, onde me despedi do pessoal com uma enorme esperança de ali voltar brevemente.

Mais 11 horas de comboio, com direito a almôndegas e a costas tortas, e regressei a Helsinki.

Se já tinha ficado encantado com a Finlândia desde que aqui meti os pés, a Lapónia deixou-me ainda mais maravilhado. O ar fresco, a fusão de verde e castanho da taiga, as fortes águas dos rios, a maneira como fui recebido por todos e em todos os locais… Não tenho palavras.

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