Monday 13 September 2010

Final stats

Distâncias viajadas...

De avião - ~6712,74kms
De comboio - >1407,62kms
De barco - ~150 milhas
De bicicleta - ~100kms em 4 dias

Materiais com que trabalhei no Scandic...

Kgs de croissants - ~36000kgs
Kgs de karjalaan piirakat - ~18000kgs
Litros de ovos mexidos - ~1400l

Encontros com portugueses - 7
Encontros com outros lusófonos - 3

Alimentação...

Kgs de carne de rena consumidos - ~5kgs
Litros de leite consumidos - ~45l
Litros de café consumidos - muitos!
Litros de koskenkorva consumidos - 0,75l
Pacotes de noodles instantâneos - demasiados...
Kgs de frutos vermelhos consumidos - ~13kgs
Kgs de batatas consumidos - muitos!
Tipos de arenque provados - 7
Carnes e peixes consumidos - rena, alce, urso, salmão, vaca, porco, carneiro, arenque, pato, ganso, faisão, perdiz, tetraz, lebre, coelho, galinha.
Tipos de lacticinios provados (não contando leite, yogurte e natas) - 8


Lagos visitados - 7
Temperatura máxima - ~37ºC
Temperatura mínima - ~2ºC
Fotos tiradas - 368
Ponto mais a Norte - Poronfarmi, Rovaniemi, acima do Círculo Polar Árctico
Ponto mais a Este - Käsmus, Estónia

Sunday 12 September 2010

Chapter XXVIII - And so it ends...

E é com grande tristeza que escrevo este último post, já no aeroporto, enquanto espero pelo avião de regresso a Lisboa. Raio do tempo só passa depressa quando não deve…

Com o cú quadrado das 11 horas de comboio Rovaniemi – Helsinki, esperava-me um longo dia pela frente. Desci em Pasila e apanhei um comboio suburbano até Leppävaara. Com uma chuva ligeira mas bastante agradável, e com um donut de chocolate e cardamomo, dirigi-me pela última vez à residência. Com cuidado para não acordar os dorminhocos, arranjei a tralha toda, tomei um prolongado duche e abanquei-me no sofá a ver televisão, dado a internet não funcionar e ainda estar tudo a dormir. Por fim lá acordaram, ansiosos por ver as fotos e ouvir o relato do passeio pela Lapónia. Distribuídos os abraços a toda a gente, e tirada a foto de grupo da praxe, lá segui carregado que nem um camelo para Helsinki. E quando digo carregado, digo mesmo: mochila grande às costas, mochila pequena ao peito, mala do pc a tiracolo, mala das facas numa mão e uma outra mala de viagem com roupas na outra. Não faço ideia do peso, daqui a bocado quando fizer o check-in já descubro.

Chegando à Rautatientori, onde me encontrei com o Marko, gastei as minhas últimas moedas num cacifo onde deixei a panóplia toda. Após o almoço, na minha última ida ao Hesburger, fui fazer - imagine-se! – de guia turistico! Eu, um alentejano que aqui viveu dois meses e picos, a mostrar a cidade de Helsinki a um finlandês que caminha este mundo há 28 anos! Fizemos o percurso Rautatientori – Senantintori – Kauppatori – Kauppahalli – Esplanadi – Mannerheimintie – Stockmann. Após mais um encontro com um grupo de portugueses e a compra de 1kg de carne de rena num talho já a fechar, fomos ter com um outro grupo de portuguesas.

A Kiki, uma rapariga que andou comigo na escola até ao 9º ano, chegou esta semana a Helsinki, onde estará em Erasmus até Janeiro. Sete raparigas num dos maiores centros comerciais de HKI é aquilo que já se sabe, de maneiras que fui acompanhar o Marko até à estação de comboios para me despedir dele. Mais tarde voltei a encontrar-me com elas, no pânico que era fazer compras num LIDL atulhado de gente. Carregadas que nem camelas, seguimos até Kannelmäki, onde fiquei a conhecer as residências onde estão a viver. E quase que ficava a conhecer o corpinho jeitoso de uma moça cuja nacionalidade desconheço, com quem elas partilham casa, mas a toalha manteve-se segura ao corpo dela e lá se lembrou que estava gente lá em casa e fechou a porta do quarto antes de se vestir… Perkele…

Após uns conselhos de desenrascanço sobre Helsinki e o Suomi, bem como uma aula de culinária onde ensinei como se preparam e se comem noodles instantâneos, pus-me novamente a caminho do centro da cidade. Sábado à noite num bairro daqueles significa muitos finlandeses e outros povos a fazer algo que sabem muito bem: beber. MUITO! No comboio ia uma mulher aos berros ao telefone, bastante bebeda por sinal. Não percebi totalmente a conversa, como é óbvio, mas os risos que arrancou a toda a gente no comboio e os constantes “Perkele! Voi vittu! VITTUTTA!” foram suficientes para perceber a cena e descarregar umas gargalhadas escondidas pelo revirar de olhos.

Lá fui ao cacifo recuperar os meus bens, e novamente carregado que nem um camelo, arrastei a minha carcaça pelo hall central da estação, até à paragem do autocarro. Desta vez fui esperto e poupei 6€. Quando cheguei, só vi o charter-bus da Finnair, que por esses mesmos 6€ conduz o inexperiente turista até ao centro da cidade em 20min. Pois os autocarros da HSL, nomeadamente o 615 e o 620, fazem o mesmo serviço em 35min e o meu passe é válido para as zonas em questão.

Mas claro que eu tinha de ter mais trabalho do que o suposto. Somehow meti na cabeça que era Terminal 2, e deixei-me seguir até ao dito. Quando lá cheguei, novamente a arrastar-me escadas acima, olhei bem para o quadro de partidas… apenas vôos intercontinentais. Perkele… Ao descer as escadas encontrei a salvação para as minhas costas: um simpático trolley, facilmente manobrável, nada como os do Scandic que constantemente encalhava ou derrubava. Com a tralha toda à molhada, lá segui até ao Terminal 1. Após verificar que os check-in ainda estavam todos fechados pois eram 00h e o vôo é só às 5.45h, procurei uma tomada e abanquei-me aqui a escrever os últimos dois posts do blog, ouvindo o true sound of Finland: Shaman & Korpiklaani.

Infelizmente não consigo apanhar internet, a suposta rede wireless não funciona, por isso faço o que aprendi no Scandic: deixo tudo preparado e amanhã sirvo aos clientes. E durante o próximo mês irei preparar o banquete que vos irei servir brevemente: um livro sobre a minha viagem por aqui, com muitos extras que nunca foram mencionados no blog. Aguardem novidades!

São neste momento 2.08h do dia 12 de Setembro de 2010, e é quase de lágrima no olho que me despeço dos melhores tempos da minha vida. Mas que fique claro: I’ll be back!

Näkemin ja kiitos paljon kaikille!

Chapter XXVII - Lappi

Após uma semana de férias AFK, deixo aqui um pequeno resumo do passeio pela Lapónia. Como prometido, será apenas um trailer. Não revelo grandes detalhes, não conto tudo o que fiz e muito menos vêm as fotos ;)

No passado dia 5 de Setembro arrumei a tralha, despedi-me das minhas meninas alemãs e italianas e segui para Helsinki com pouco mais do que a roupa que tinha no corpo, a carteira e a inseparável máquina fotográfica.

Enquanto fazia tempo para o comboio, diverti-me a passear de eléctrico. Uma maneira barata e confortável de ver grande parte da cidade. Também dei um passeio de metro até Vuosaari, com paragem em Itäkeskus no retorno ao centro. Por fim, umas voltinhas pelo Hakaniemi e pelo Kaisaniemi.

Eis que chega então um enorme comboio, denominado Santa Claus Express… Preparem-se, pois praqueles lados, everything is Santa Claus!

A morosa viagem de cerca de 11 horas foi passada a rebolar dum lado pro outro dormindo nas posições mais estranhas que possam imaginar, qual contorcionista ou praticante de yoga. Quando a fome apertou, tratei de a saciar com umas delíciosas almôndegas que vendiam no vagão restaurante/bar.

E finalmente cheguei a Rovaniemi, capital da Lapónia, uma pequena cidade localizada a poucos kilómetros do Círculo Polar Árctico, onde se dá a junção dos rios Kemijoki e Ounasjoki.

Como o alojamento mais barato que tinha consigo encontrar custava a módica quantia de 40€ SEM PEQUENO ALMOÇO, estava decidido a abancar pelas ruas e a dormir ao relento. No entanto, o meu destino foi outro. Ao sair da estação, abordei uma rapariga a fim de obter algumas direcções por ali. Fomos andando, conversando, e quando lhe disse que iria dormir pelas ruas, ela propos-me partilhar o sofá do apartamento dela com dois gatos. E assim fiz, logo eu que não gosto nada de gatos…

Como os transportes por ali são ainda mais caros que em Helsinki e são bastante escassos, tipo um autocarro por hora, a solução mais óbvia que encontrei foi a de alugar uma bicicleta para a semana inteira. Um par de rodas que me deu total mobilidade, bem como a liberdade de explorar toda a cidade e arredores.

Após uma visita breve ao posto de turismo, comecei a pedalar pela primeira vez em cerca de 2 anos. E pedalando encosta acima, cheguei à aldeia do Pai Natal, localizada precisamente no Círculo Polar Árctico. Nunca na vida pensei chegar a estas latitudes, mas certamente quero lá voltar. E o que é que eu fiz por ali? Ora pois claro, após uma dúzia de kilómetros pedalados, tinha que ir conhecer o velhote barbudo… Quem diria, a pessoa mais anti-natalícia que conheço foi visitar o tí Nicolau, esteve de conversa com ele e ainda tirou uma fotografia como prova!

Após me ter sida impingida a dita fotografia pela módica quantia de 25€, e já farto de ouvir as mesmas christmas carols que continuavam a tocar, segui para visitar outros pontos de interesse na Santa’s village: Santa’s Post Office, Husky Park, e um museu a céu aberto recriando habitações tradicionais Saami. Infelizmente de tudo o que eu queria ver só o posto dos correios estava aberto. Todas as cartas endereçadas ao Pai Natal vão parar ali, mesmo aquelas que escrevem por brincadeira.

Finda a visita por ali, toca a descer a colina em direcção a Rovaniemi. Os caminhos para ciclistas são uma maravilha, e a sensação de levar com o ar fresco na cara enquanto se observa a taiga é indescritível.

Como a descer todos os santos ajudam (insert Santa pun joke here), num instante estava de volta à cidade. Segui para sul, sempre maravilhado com a paisagem, até à Lapin Yliopisto – Universidade da Lapónia, o polo universitário mais a norte que existe no mundo. Aí me encontrei com a Riikka e seguimos para o apartamento dela, a poucos metros da universidade. Foi então que conheci os meus room mates: Vetti e Lenni. Um era gordo e branco, o outro era mais pequenino e preto; ambos eram extremamente fofos e mimosos. Ao anoitecer fomos a casa de umas amigas delas, a uma pseudo festa.

No dia seguinte, com as pernas doridas da bicicleta, passei grande parte do dia no Artikum. Trata-se de um museu sobre o Árctico que combina História, Ciência e Arte, de forma extremamente interessante e organizada. Almocei um kebab no Rocktaurant dos Lordi e passei o resto do dia em petiscos. Nesse dia festejava-se o 150º aniversário da Rovaniemen Kirjasto (biblioteca), e lá tinhamos café, sumo de morango, e um maravilhoso bolo de frutos vermelhos, lakka e chantilly. Além disso, mesmo ali ao lado, na Kaupunkitalo (Câmara Municipal), dava-se um evento de recepção aos estudantes estrangeiros. Infiltrei-me por lá, com direito a uma tarte/pizza de rena, uns bolinhos e mais café à pála. Após encher o bandulho, recebi uma mensagem da Riikka a convidar-me para um picnic à beira rio com os amigos dela, e lá fomos nós. Após o picnic, consegui deixar toda a gente interessada no bolo gratuito na biblioteca, e fomos todos para lá. Claro que eu tinha de emborcar mais um(as) fatia(s).

Quarta feira foi dia de pedalar a sério novamente. Segui mais uma vez para o Círculo Polar Árctico, mas desta vez passei primeiro no posto de turismo para me certificar que as coisas que eu queria ver estavam abertas. Comecei pelo Husky Park, onde estive rodeado por cerca de 60 huskies fofinhos e dois samoyedos ainda mais fofinhos. As donas do recinto foram bastante simpáticas, além de não me terem pedido os supostos 6€ pela entrada, ainda me ofereceram grilliimakarat e café. Após o petisco, e com vontade de trazer a bicharada toda comigo, lá fui ver as construções Saami e desci a Rovaniemi para o descanso do dia.

O dia começou um pouco mais cedo que o usual na quinta feira. Recebi um telefonema do posto de turismo pelas 9 da manhã, a confirmar que a quinta de criação de renas que eu queria visitar estava aberta a partir das 11h. Papei uns donuts e meti-me a caminho. Claro que o sitio tinha de ser a 12kms de casa e ladeira acima…

Com os bofes de fora, lá cheguei ao local. Conheci o dono da quinta e algumas das renas. São bastante fofinhas e sociáveis, ao ponto de virem comer à mão, mas não são bichos que primam pela inteligência… De acordo com o criador, por muito que se tente, elas nunca se habituam a responder pelo nome que se lhes dá; além de poder levar 3 a 5 anos até que elas aprendam a puxar um trenó. Após a chávena de café com bolinhos da praxe, regressei a Rovaniemi. Desta vez fui explorar a margem sudeste do rio, onde além do relaxante passeio pela floresta, pude visitar o Rovaniemin Museo e o Metsämuseo. O primeiro tratava-se de um pequeno museu etnográfico, retratando a vida numa pequena propriedade agrícola do séc. XIX, cujos edifícios ainda eram os originais, bem como a familia que a mantinha. O segundo era mais um museu a céu aberto sobre a vida dos lenhadores na Lapónia, com muitas casas recuperadas e alguns objectos que remontavam aos finais do séc. XIX e primeira metade do séc. XX. Estava tão entusiasmado que me esqueci de tirar fotos a estes dois museus, paciência…

E aproximava-se a hora de ir embora… fiz umas comprinhas durante a tarde, e preparei uma pequena surpresa para a Riikka. Como agradecimento por me ter recebido, arranjei uma garrafa de vinho do Porto (não encontrei vinho alentejano…), duas latinhas de comida XPTO para o Lenni e o Vetti, e um postal. Após nos encontrarmos, despedi-me dos miaus e seguimos para a house warming party de um amigo dela, onde me despedi do pessoal com uma enorme esperança de ali voltar brevemente.

Mais 11 horas de comboio, com direito a almôndegas e a costas tortas, e regressei a Helsinki.

Se já tinha ficado encantado com a Finlândia desde que aqui meti os pés, a Lapónia deixou-me ainda mais maravilhado. O ar fresco, a fusão de verde e castanho da taiga, as fortes águas dos rios, a maneira como fui recebido por todos e em todos os locais… Não tenho palavras.

Sunday 5 September 2010

Chapter XXVI - Hei hei Jääskelantie!

Dentro de meia dúzia de horas estou a caminho do Árctico. Não vou ter o computador comigo durante esta semana, por isso apenas estarei contactável por telemovel.

Ontem dei um grande passeio por Helsinki: Kansallismuseo, Suomenlinna e Korkeasaari. Tirei cerca de 90 fotos, algumas delas estão online no meu Facebook para quem quiser ver. Não tenho muito tempo para escrever no blog sobre o passeio, por isso terão que aguardar uns dias.

Já tenho as malas feitas, só me falta arrumar o pc... Daqui a bocado vou almoçar e depois despedir-me dos meus roomies. Próximo sábado de manhãzinha estarei de volta a Helsinki. E com muita tristeza, à noite regresso a Lisboa...

Mas agora, Läppi!

Thursday 2 September 2010

Chapter XXV - Último dia no Scandic & O Sacro-Império Romano-Germânico

Após tantos dias e horas extras de trabalho, finalmente terminei o estágio. Para acabar em grande, adivinhem o que passei o dia a fazer? A mis-en-place do costume? Nop. Os buffets frios? Não. Empratar a comida para os banquetes? Neps. Ficar à frente do fogão a terminar os pratos para o serviço à lá carte? Tambem não. Lavar loiça o dia todo? YES!

Esta semana entrou um rapaz nepalês para a copa. Além dele não estar habituado ao trabalho, tem que ir embora às 14h porque tem um segundo emprego às 15h... o que se torna um pesadelo pois fica muita loiça por lavar. Ontem destacaram-me para o ajudar o dia inteiro... e o trabalho era tanto que às 16h estava eu e os dois chefes a correr dum lado pró outro com a loiça. Custou bastante e as costas ainda se queixam, mas lá se deu conta do recado. Sinceramente é serviço que desejo a muitas pseudo-estrelas da cozinha, aprendiam logo a ter outro respeito por este trabalho e por quem o faz, coisa que quase nunca acontece.

Sei que o Jari lê o blog de vez em quando, por isso aqui fica uma mensagem a toda a equipa:
Jari, Johann, Ben, Tulja, Eila, Jie, Sihng, Violetta, Jean Pierre, Shito, Pauliina, Annika and everyone who I worked with at Scandic Continental Helsinki, my best regards to all of you. I had a great summer and the best time of my life working with this team, I hope I can come back in the future. Kiitos paljon!

A segunda parte do post de hoje é sobre os meus novos colegas aqui na residência: 3 alemãs e 3 italianos/as. As alemãs são maníacas pelas limpezas, não têm noção... Fora isso, é tudo boa gente, sempre animadas e bem dispostas. Ontem perguntaram-me se eu sabia por a sauna a bombar, pois nem uma facção nem outra alguma vez tinha lá ido. Como sou bonzinho, perguntei-lhes a que horas chegariam hoje a casa vindos do trabalho, para eu ter a sauna a bombar e irmos todos pra lá. Não sei ainda se estão dispostas a mixed gender e sem roupa, que é como a sauna deve ser, mas logo se vê isso.

Espero não ser condenado à guilhotina ou a qualquer sentença de execução ou tortura, mas aqui fica uma foto do combíbio germânico-romano-luso, tirada ontem à noite. Destaque para o bolo de maçã da Tanja que levou horas no forno e quando saiu a maçã ainda estava crua, e o bolo de morango que comprei no supermercado mas que ainda estava congelado quando o ataquei. Como poderão imaginar, grande parte das conversas da noite revolveram em torno destes dois bolos que, qual tortura de Tântalo, nunca mais estavam comestíveis...





Sábado vamos todos passear: Linnanmäki, Korkeasaari e uns bares em Helsinki. E domingo à noite sigo para Rovaniemi! Can't wait ^^

Ah, e está decidido: ao longo das próximas semanas irei trabalhar num livro sobre a minha viagem pela Finlândia. Em princípio será lançado ainda antes do Natal, edição caseira, com o melhor do espírito DIY. Não posso falar já em preços, mas será acessível, apenas o suficiente para cobrir as despesas de produção. Quando tiver mais detalhes aviso. E para vos espevitar ainda mais o interesse, posso adiantar desde já que o capítulo sobre a Lapónia será exclusivo do livro! O blog apenas terá uns pequenos spoilers, por isso, quem estiver interessado, já sabe!



Thursday 26 August 2010

Chapter XIV - Suomen luonto

Finland's liberal laws of access to the land - known as Everyman's Right - give people of all nationalities a free right to roam the countryside and enjoy outdoor activities in a natural setting, no matter who owns the land.

This free right comes hand in hand with the responsibility to avoid any damage or disturbance to the natural environment, people's property and other visitors.

Everyman's Right enables visitors to freely walk, ski, ride, cycle, row or paddle around the countryside, except in the immediate surroundings of people's homes, or in cultivated fields. Visitors can also picnic, swim and even camp out. Motor vehicles, including snowmobiles, may not be used off road without the landowner's permission. In certain sensitive areas as national parks and other protected areas, visitor's movements and rights are restricted to protect wildlife.

Everyman's Right also allows visitors to pick wild berries and mushrooms, and to fish with a simple rod and line in most waters all year round. Hunters need the landowner's permission, as well as official hunting permits.
The landowner's permission is also required for letting pets off lead or lighting open fires.

More information on these extensive rights is available at www.environment.fi/everymansright

In: Enjoy Nature in Finland, Metsähallitus


Além disto, são ecologicamente muito responsáveis. A reciclagem é fortemente encorajada; as garrafas de plástico valem 0,20-0,50cent, sendo depositadas nos supermercados recebendo depois o seu valor. É raro ver lixo nas ruas, e ainda mais raro nos espaços verdes. Desde que aqui cheguei não vi nenhuma notícia sobre fogos florestais, o que é notável para um país cujas florestas ocupam 50% do seu território.

E agora vou jantar e deitar-me, que amanhã começa a última semana de trabalho.

Wednesday 25 August 2010

Chapter XXIII - Pausa laboral

Quarta feira à tarde tem sido o melhor momento da semana nos últimos tempos. É que como só tenho a quinta feira livre, quarta após o trabalho sinto o alívio do dia laboral já ter passado e de saber que ainda tenho uma noite e um dia inteiro para descansar.

Esta vai ser a minha última semana no Scandic. Amanhã estou de folga, no fim de semana vou ter que bombar com 1200 bocas para alimentar e na próxima quarta será o meu último dia. Por um lado vão saber bem as férias, e estou ansioso por ir para a Lapónia. Por outro, estou a cerca de duas semanas de voltar a terras lusas... Faz hoje dois meses que cheguei, btw.

Perguntaram-me, várias vezes, se não tinha saudades de casa, de Portugal ou das pessoas. E ficavam chocados quando dizia com toda a honestidade que não. Don't take it personal, mas de facto não sinto falta de nada daí. Talvez do meu montezinho de pêlo mal humorado, mas isso já é hábito. De resto, nada. Se pudesse, ficava aqui... mas sem trabalho, sem papeis, sem casa e acima de tudo sem dinheiro, seria complicado. Não me importava de viver nas ruas por uns dias, mas a situação seria demasiado precária para me aguentar muito tempo.

Portanto a solução vai ser enfiar-me praquele avião, às 5 da manhã do dia 11, e rezar para que ele dê meia volta a meio do caminho porque a Finlândia se lembrou de fechar fronteiras e cortar todos os contactos internacionais, de maneiras que ninguém pode entrar ou sair... *rolls eyes*

Utopias à parte, já cá tenho não uma, não duas, mas três alemãs a viver comigo. Ao inicio pensei que eram 6, mas 3 delas estão a viver noutra residência. São todas muito simpáticas, e batem um record de cafés bebidos por dia nunca antes visto.

Falando nelas, vou para ali socializar um bocado.

Näkemiin!

PS: já enviei os postais para toda a gente!

Friday 20 August 2010

Chapter XXII - Só para dar sinais de vida...

Não me batam, vá... Após quase duas semanas sem dar notícias, resolvi vir aqui escrever qualquer coisa. O motivo da minha ausência/falta de paciência/preguiça para escrever tem sido os dias e horas extra de trabalho. Que ainda se tornam mais difíceis com 1200 pessoas no hotel...

Este esforço irá durar mais duas semanas e após isso, termino o estágio e vou de férias para Rovaniemi, capital da Lapónia localizada no Círculo Polar Árctico. Já andei a ver uns sites e na lista de sítios a visitar, estão um museu de antropologia e cultura Sami, uma quinta de criação de renas, um outro sitio de criação de huskies, um jardim zoológico só com animais polares e muito passeio pelas florestas, em retiro espiritual, para me preparar para regressar a baixas latitudes dia 11. Vai-me custar TANTO ter que voltar... bah!

As ondas de calor já andam a acalmar. Apesar de durante o dia ainda chegar aos 30 e tais graus, durante a noite já arrefece bastante. Hoje quando sai de casa às 6.35h estavam uns adoráveis 7ºC, temperatura ideal para pessoas que detestam o calor como eu. E segundo o Jari, em Rovaniemi sou capaz de apanhar neve, gelo e temperaturas negativas. Se eu não voltar, virei boneco de neve algures lá pra cima.

Segunda feira vão chegar novos estudantes aqui à residência, três alemães e três italianos. Isto significa ter que arrumar a casa, recolhendo todas as minhas propriedades espalhadas e juntá-las num só sitio, arrumar o frigorífico e os armários da cozinha para eles terem espaço para as comidas deles, e comer toda a carne de rena que me resta, bem como beber toda a Koskenkorva, para evitar que desapareçam misteriosamente... Tendo em conta que amanhã e domingo pego ao trabalho às 6 da manhã, pois temos o hotel cheíssimo com o concerto dos U2 aqui em Helsinki, vai ser penoso ter que tratar de tudo isto.

O programa after-work para os próximos dias irá incluir um retorno à Suomenlinna, uma visita a Korkeasaari, a ilha-zoo de Helsinki, e uma ida gratuita ao cinema, com bilhetes e pipocas à pála, graças aos vales oferecidos pelo hotel.

Para terminar, deixo uma questão aberta aos meus leitores: gostariam de adquirir um livro (físico) sobre a minha viagem por aqui, com histórias e imagens inéditas? Não será apenas uma impressão deste blog, terá um conteúdo diferente, apesar de algumas situações descritas figurarem no livro.

Deixem o vosso feedback acerca disto!

Sunday 8 August 2010

Chapter XXI - Eesti: Tallinn & Käsmus

Após dormir 13h, já me sinto em condições para escrever o relato da viagem à Estónia. Se bem que as costas ainda estão doridas e as olheiras ainda não desapareceram, mas paciência.

Sexta feira, dia 6, sai de casa pela manhã, com destino a Katajanokka, o terminal dos ferries da Viking Line. O dia começou bem: assim que chego ao comboio em Leppävaara, o dito cujo avariou e demorei mais 15min a chegar a Helsinki... felizmente que o atraso não afectou o passeio, mas por momentos ainda imaginei que não iria chegar a tempo ao navio.

Cheguei ao terminal e não conseguia dar dois passos sem esbarrar em grupos de pessoas que andavam por lá de um lado pró outro. Fiz o check-in, comi um delicioso donut e quando foi hora, lá entrei para o ferry. Acho que foi a primeira vez que naveguei a sério, só me lembro de ter andado de cacilheiro e no barco que faz a ligação Peniche-Berlengas.

O navio em si era um centro comercial flutuante. Tem 3 decks interiores para o transporte de veículos, 1 deck com cabines para passageiros pernoitarem em viagens maiores, 1 deck com uma loja tax-free onde predominam as bebidas alcoólicas e os perfumes e 3 decks abertos repletos de bares, cafés e restaurantes de vários géneros.

Atravessando o Báltico.

A viagem dura 2.30h e é bastante agradável, pelo menos para mim que gosto imenso do mar. O navio é tão grande que não se sente a ondulação nem o movimento. Dei umas voltinhas pelo navio, comi um hamburger de tamanho épico e um Forest Noir que me soube pela vida, comprei um chocolatinho na loja tax-free, tirei umas fotos e entretanto cheguei a Tallinn.


O Forest Noir de 3.50€ a bordo do navio

Eram 14h quando o navio aportou. Assim que sai do terminal e comecei a caminhar para a Old Town, fui repetidamente abordado por distribuidores de panfletos de tudo e mais alguma coisa. Uma das moças que me espetou com um panfleto na fuça e que eu não aceitei disse que era de um strip club, coisa que mais tarde me viria a arrepender.

Chegando à Old Town, foi como entrar numa máquina do tempo e regressar ao séc. XV. O centro histórico de Tallinn está muito bem conservado e limpo, cheio de pequenos museus de tudo e mais alguma coisa, restaurantes de temática medieval, pequenas galerias de arte e muitos locais a vender souvenirs em trajes tradicionais. Captava bem o espírito da cidade que foi uma das principais pertencentes à antiga Hansa, que para quem não sabe, era uma coligação económica medieval que abrangia as regiões germânicas até à cintura de países do Báltico.


Uma das ruas da Old Town


Uma secção da muralha com um pequeno museu no interior que estupidamente não cheguei a visitar



Antigo edifício da guilda hanseática, à noite


Um pouco limitado pelo tempo, só visitei o pequeno Museu de História Natural da Estónia, onde destaco os fósseis de mamutes que outrora andaram por aqui. Vi uma montra com uma performance steampunk muito engraçada, passei pelo Museu da Marioneta e um antiquário que vendia armas e equipamentos autênticos da 2ªGuerra Mundial. Gostei imenso dos capacetes soviéticos, aliados e nazis, que custavam 2000eek, cerca de 120€, mas o antipático dono da loja não me deixou fotografar. Tentei procurar algum museu de antropologia, mas não encontrei.

Reconstrução parcial de um mamute no Museu de História Nacional

O antiquário que vendia memorabilia militar

Tinha que descobrir onde ficava a National Library com alguma urgência, pois sabia que ainda era longe do sitio onde estava e precisava de lá estar às 17h, hora a que iria apanhar o autocarro para a aldeia de Käsmus, para o Viru Folk. Quem tem boca vai a Tallinn, e entre velhotas que não falavam inglês, locais que não sabiam ou que não queriam falar comigo, punks que não sabiam mas que me auxiliaram com um mapa e gente que me perguntava se eu era british, lá dei com a biblioteca. Cheguei lá eram 16h, e tirando uma igreja mesmo em frente, não haviam muito que ver naquele quarteirão. Como estava preocupado com o autocarro, acabei por abancar lá a descansar os pés e esperar... esperar... 17h... esperar... 17.30h... esperar... e finalmente lá veio o autocarro, pelas 17.50h, para alívio meu e do pessoal que foi chegando. O bilhete ida e volta custou 100eek, cerca de 6.50€ por 90kms para lá e mais 90 para cá.


Biblioteca Nacional da Estónia.

A viagem demorou duas horas, em parte porque os primeiros 20-40kms de autoestrada à saída de Tallinn estão em obras e era uma enchente de veículos brutal. Dava vontade de sair do autocarro e ir a pé, aquilo era mesmo muito lento... Devagar se vai ao longe, e lá chegámos a Käsmus.

É uma aldeia muito pequena na costa do Báltico, com cerca de 20 habitantes permanentes e uns 50 que têm lá casa de férias. Praticamente todas as casas tinham uma barraquinha de comes e bebes no quintal, exploradas pelos donos da casa e com preços muito convidativos; bem como diversas barraquinhas de artesanato, roupas, petiscos, conservas e afins espalhadas por todo o lado em virtude do festival, tudo pequenos negócios de familia e com preços muito baixos. Existia ainda um serviço de "taxi" numa espécie de riquexó puxado por bicicleta para mais fácil mobilidade entre as zonas do festival, destinado a grávidas, deficientes físicos ou pessoas mais velhas que tivessem problemas a caminhar. Uma óptima iniciativa, a meu ver.

O Báltico visto de Käsmus


A estrada que percorre a vila com as barraquinhas de artesanato



O recinto do festival

Comprei o bilhete para ver apenas Korpiklaani, dado ter chegado bastante tarde e ser só uma banda a tocar antes deles, custou 225eek. Foi o primeiro festival em que vendiam bilhetes só para se ver uma banda, iniciativa louvável em todos os festivais, mas exequível apenas em sitios pequenos como este. Basicamente o bilhete para uma banda tinha as horas lá registadas e os seguranças deixavam entrar nessa hora, sendo que varriam o recinto quando a banda anterior terminava para o pessoal que só quis ver essa banda sair. Claro que quem tinha a pulseira para todos os dias ou para o dia inteiro podia lá ficar. Tendo em conta que eram 6 pequenos palcos espalhados pela vila, onde tocavam 3 bandas em simultâneo, a coisa funcionava bastante bem e que eu saiba, não houve problemas.

Como o Gordo me tinha incentivado a experimentar os enchidos locais, decidi-me a jantar um prato de salsichas frescas com batatas fritas temperadas com paprika e uma espécie de sauerkrout com tomate e pepino misturado. Estava muito bom, e por 50eek, ainda soube melhor.

As papinhas que o Gordo recomendou

Entretanto conheci a Krista, uma das organizadoras do festival com quem tinha falado por e-mail anteriormente. Fiquei por lá de conversa com ela até poder entrar para Korpiklaani.

O concerto foi muito bom, muito bailarico, uma setlist equilibrada entre todos os albuns, com direito a sessão de joiku e umas músicas de Shaman que adorei ouvir ao vivo. Os membros da banda sempre muito simpáticos e já um bocadinho bebedos, com quem tive oportunidade de conviver no final do concerto. E era o aniversário do baixista.

Após Korpiklaani, cansado do bailarico e quase sem voz de cantar, encontrei-me novamente com a Krista e ficámos de conversa até chegar o autocarro. Deu-me a provar um saboroso licor de ervas lá do sitio, que sabe demasiado bem para uma bebida de 35%, pois não se sente o alcool. Conheci ainda as irmãs dela, e apesar de não darem bem com o meu nome, eram todas muito simpáticas com quem irei manter contacto. Queria ter comprado uma blusa estilo medieval e um pendente com runas mas as lojinhas fecharam durante o concerto e acabei por não trazer nada...



O belo do licor de ervas

Pelas 2h lá me meti no autocarro de regresso a Tallinn, desta vez pontual. Quando lá cheguei, fui procurar o Von Krahl, um bar alternativo que a Krista me tinha recomendado. O plano original até era dar uma volta pela cidade e abancar a dormir lá num cantinho qualquer até de manhã, mas sendo que era sexta feira à noite e a chungaria andava pelas ruas, foi-me dito que era melhor não dormir na rua, senão ainda me davam um enxerto de porrada e ficava sem nada. Novamente às voltas pela Old Town, percebi o aviso que me tinham dado... Num bar por onde passei vi dois gajos à porrada, com direito a atirar mesas e garrafas um ao outro. Um pouco mais à frente vejo um gajo a correr com três malas de gaja na mão, a escugitar à procura de dinheiro. Não, ninguém se meteu comigo, descansem. Lá cheguei ao Von Krahl... mas faltavam 10min para fechar, infelizmente. Fiquei à porta a falar com algum pessoal que por lá estava, incluíndo um gajo que organiza concertos de industrial em Tallinn e em Helsinki, que costuma ir passar férias a Barcelona e está a pensar ir a Lisboa porque tinha ouvido falar do Bairro Alto. Estonians are the ultimate party people, segundo pude confirmar.

Após procurar em vão o tal strip club para passar o resto da noite, desisti e fui para o porto. Apesar de não ser o meu objectivo, o turismo sexual é um ponto forte em Tallinn.

Regressei ao terminal do ferry, que ainda estava fechado. Deitei-me lá num banco a ver se dormia, mas os fucking mosquitos e as barulhentas gaivotas não deixaram. O terminal abriu às 6h e o café às 7h. Fiz o check in e abanquei no café, onde comi quatro deliciosos pirukas (pastéis) de carne que custavam 30cent cada, e um chocolate quente. Foi a primeira vez desde que aqui cheguei que gastei menos de 5€ numa refeição, e esta soube-me pela vida.

Novamente a bordo do ferry, fui para o deck superior deitar-me num banco, onde ainda dormitei uma horinha... até acordar com chuva, vento e frio. Não foi nenhuma tempestade, mas foi o suficiente para quase toda a gente abandonar o deck e se refugiar no interior do navio.

Cheguei a Helsinki às 10.30h e percebi o porquê da enchente do dia anterior. É que a hora a que este navio chega coincide com a hora do check-in para o que vai para Tallinn, então o terminal enche de gente que chega e gente que vai.

Confirmo ainda que quase toda a gente vai de malas vazias e as trás cheias de cerveja, vodka e licores comprados a bordo do navio. Esta gente bebe que nem camelos...

Resumindo, gostei imenso da Estónia e tenho pena de não ter tido mais tempo para lá estar. Se puder ainda volto lá antes de ir embora, apesar de ser complicado tanto por tempo como por dinheiro. Gostava de poder explorar melhor a Old Town e sobretudo de ir aos restaurantes medievais. Diverti-me imenso por lá, conheci gente muito simpática e hospitaleira, e aprendi algumas coisas sobre o local.

Como todos os países de leste, está patente um pequeno ódio contra os russos, que ainda hoje em dia continuam com ideias imperialistas. No entanto, a população é geralmente muito tolerante para com gentes de outros países. Mesmo a malta mais nova com quem falei me disse que apesar de não gostarem dos russos, muitos têm grandes amigos russos, tanto que vivem na Estónia ou na própria Rússia.

No entanto, tal como outros países de leste, as áreas mais importantes da sociedade funcionam a 100% e a baixo ou nenhum custo para a população: saúde, educação, transportes públicos e comunicações.

Estes sinais encontravam-se por toda a cidade, a explicar como aceder gratuitamente à rede wireless em Tallinn.

A Estónia é um país surpreendemente avançado em termos de tecnologias. Plano Tecnológico Nacional, metam-no no cú... Na Estónia existe uma rede wireless pública acessível em qualquer ponto do país, até mesmo no meio do mato. Também segundo me disseram, o Estado publica avisos à população via SMS, conceito que ainda não tinha ouvido em lado nenhum. Em Portugal seria uma óptima maneira de, por exemplo, incentivar as pessoas a irem votar.


Goodbye Tallinn!







PS: Acho que as eslavas conseguem destronar as finlandesas em termos de beleza... para onde olhava, só me babava!

Thursday 5 August 2010

Chapter XX - Mustamakkara, veripalto ja vatrushka

Mais especialidades da cozinha finlandesa... Como já tinha referido num post anterior, mustamakkara é uma salsicha de sangue, comida com compota de frutos vermelhos (e para variar, puré de batata). A esposa do Jari esteve recentemente em Tampere e trouxe algumas, que o Jari levou para eu provar. Hoje lá se fez o petisco na cozinha: grelhou uma com manteiga e fez outra no forno. Não sou grande fã de comidas com sangue, e estava um pouco reticente para provar isto, mas lá enfiei uma rodela com um pouco de compota na boca... E para minha surpresa, não tinha o sabor forte que esperava. Sabe a sangue e farinha (que é o que aquilo mais leva), mas não demasiado. Tem uma textura estranha, mas os grãos de cevada ou aveia que fazem parte da salsicha são uma surpresa agradável, faz lembrar as morcelas de arroz. A que foi cozinhada com manteiga era mais gostosa que a que foi ao forno. Tenho que realçar a técnica de a cozinhar: põe-se com a manteiga numa frigideira fria e depois segue para o lume; se se põe directamente numa frigideira quente, rebenta.

Resumindo, não é intragável de todo, mas também não é algo que eu queira comer mais vezes.

Provei também veripalto. Este não gostei mesmo... enquanto que a mustamakkara ainda tem a aveia a disfarçar, o veripalto é mesmo só sangue e farinha. Come-se com batatas, compota e molho bechamel, mas nem com isto tudo misturado me soube minimamente bem...

Para terminar as degustações, comi um vatrushka. É uma espécie de empada de salmão com queijo e ervas aromáticas, originária da Rússia. Agradável, mas nada de extraordinário.

Antes de publicar o post, tenho que vos contar o epic fail do dia. Cheguei a casa, peguei na máquina e comecei a rapar o cabelo... até que a porra da bateria foi abaixo e fiquei com o cabelo meio rapado. Ainda por cima a máquina demora 12h a carregar... Neste momento tenho um mullet frontal, atrás e nos lados até não ficou mal de todo. Dependendo de como acordar amanhã, logo vejo se vou assim para a Estónia ou não ahahah!

Amanhã sigo para Tallinn, de lá para Käsmus, e regresso no sábado a Helsinki. Sábado publicarei fotos e conto como foi o passeio à Estónia :)

Wednesday 4 August 2010

Chapter XIX - Herkun portugalilainen lounas

Tinha falado com o Jari há uns dias atrás para fazer uma refeição portuguesa para o staff ou pelo menos para o pessoal da cozinha e ele gostou bastante da ideia. Levei o livro da Maria de Lurdes Modesto e ele escolheu uma receita ribatejana de sável assado na telha e perguntou-me o que é que seria bom a acompanhar. Para não ser batata cozida, lembrei-me das batatas a murro... "Punched potatoes", como livremente me atrevi a traduzir. Escusado será dizer que isto provocou algumas gargalhadas. E como prato vegetariano, feijão verde à alentejana.

Ontem fiz o petisco para o Herku, o restaurante do staff. Tive que usar salmão e bacon para o albardar em vez de sável e toucinho, mas o essencial do prato era a marinada. Mostrei como se faziam as punched potatoes e fiz ainda o feijão verde à alentejana, que só faltavam as sopas de pão para degustar a molhanga. Pediu-me ainda para escrever o menú em português, então ficou algo do género:

Herkun portugalilainen lounas!
Almoço português no Herku!
Portuguese lunch at Herku!

Peixe assado à ribatejana
Keskis-Portugali kala
Ribatejo style roasted fish

Batatas a murro
Qualquercoisa perunat (não me lembro do nome que ele usou para "murro" em suomi)
Punched potatoes

Feijão verde à alentejana
Etelä-Portugali kasvis
Alentejo style green beans

E no final, foram só elogios, para minha grande surpresa! Vários trabalhadores de diversas secções, bem como a directora de F&B e o director do hotel, fizeram questão de me dar os parabéns pessoalmente, tanto pela iniciativa de fazer algo diferente como pela comida em si. Resultado? Prá semana vão provar carne de porco à portuguesa, e mais qualquer coisa que ainda não decidi. Aceito sugestões, qualquer coisa que não tenha enchidos pois é a única coisa que não se arranja por aqui. Escolhi a carne de porco à portuguesa pois dois dos seus três principais componentes são venerados na gastronomia finlandesa: pickles, e claro está, batatas. Penso que se adequa ao palato deles e ao mesmo tempo é "exótico" QB.

Fiquei muito feliz por terem gostado, não estou habituado a que valorizem o meu trabalho, mas soube bem esta pequena massagem no ego. E tenho ideia que as punched potatoes vão figurar mais vezes no menú, além da piada do nome, o Jari gostou bastante delas.

Tenho trocado umas impressões com o Jari e a Tulja sobre a cozinha finlandesa e já ando com mais ideias para preparar carne de rena. E amanhã vou provar a famosa mustamakkara, o chouriço de sangue cá do sitio... vamos lá a ver como corre, não sou muito de coisas com sangue.

Posto isto, começo a ficar triste por ter que ir embora... só falta um mês para ter que voltar às baixas latitudes. Mas enquanto não vou, já sei como ocupar os próximos fins de semana. Neste vou à Estónia, no próximo a Turku e no seguinte a Lahti. Ter 50% de desconto nos comboios é óptimo, e são duas terras a uma hora e picos de Helsinki, dá pra ir de manhã e voltar à noite sem gastar mais de 10€. Cool, eh? E para terminar a minha estadia por aqui, já estou a esboçar o plano de viagem às terras do árctico... Rovaniemi, capital da Lapónia; Oulu, ligeiramente abaixo; Kuopio, Karelia do Norte e possivelmente Tampere quando estiver a regressar a Helsinki. Ainda estou com ideias de me meter no comboio Helsinki-St.Petersburg, mas para isso seria necessário visto e não sei quanto custa nem quanto tempo demora, provavelmente ficará para outra oportunidade.

E agora vou descansar que esta noite não dormi nada de jeito com a trovoada brutal que por aqui passou... se na sexta feira chove assim, estou bem f*dido, estou...

Saturday 31 July 2010

Chapter XVIII - Kauppatori novamente

Com umas olheiras que parecem óculos escuros e a arrastar-me cansado e cheio de sono devido às horas extras de trabalho e a ter entrado às 6h da manhã, fui mais uma vez ao Kauppatori. Infelizmente a máquina não tinha bateria, não pude fotografar nada, mas foi uma visita interessante, com direito a conhecer mais portugueses e a densidade humana superior a 3 individuos por metro quadrado.

Comecei por sondar todas as barraquinhas que vendiam frutas à procura dos morangos, groselhas e arandos mais baratos. Os preços andavam todos a rondar o mesmo, mais euro, menos euro... Mas lá consegui trazer meio kg de groselhas e arandos por 3.25€. Morangos é que ficaram lá, pois eram a 5/6€ por kilo e na barraquinha em Rautatientori, onde apanho o comboio, são a 3€.

Entrei para o edifício e fiquei a babar-me na vitrine da pastelaria, sem saber o que é que ia comer. Mas como me apetecia algo salgado para ter uma refeição mais completa, andei um pouco mais até a uma barraquinha de comidas prontas e provei um dos ícones do fast food finlandês: lihapiirakka. São uns pasteis com uma massa muito fofa, recheados de carne picada e arroz, sem condimentos muito fortes. Tendo em conta que aquilo tem cerca de 15-20cm de diâmetro e é rechonchodinho, achei extremamente barato custar só 2€! Quentinho, aconchegou-me o estômago.

Ia eu a dar a primeira dentada quando começo a ouvir zumzuns numa língua conhecida... "Sim, sim, damos a volta a isto por aqui e voltamos pró pé dos outros, anda lá!"... Desta vez fui eu que iniciei conversa, convencido de que o meu karma será cruzar-me com portugueses onde quer que eu esteja. Era um simpático casal de velhotes que estava a fazer um cruzeiro, começaram a viagem na Dinamarca e hoje iriam passar o dia em Helsinki. E a mulher era alentejana, de Moura. Lá me fizeram as perguntas do costume "Está a viver aqui? Onde é que trabalha? E a língua? Os finlandeses são boas pessoas? E as finlandesas, são muito bonitas, não são?" e no final ainda conheci um outro casal de portugueses amigos deles que os acompanhava na viagem.

Lá seguiram para o grupo de turistas do cruzeiro e eu lá pude comer o meu lihapiirakka sossegadinho. Após o repasto ia à tal pastelaria gastar 2.50€ num bolinho minúsculo, mas estava tanta gente que não se conseguia ver a montra sequer... Segui caminho até ao talho para comprar mais um naco de carne de rena e depois meti-me a caminho de casa. Logo à noite ou amanhã vou fazer mais umas experiências culinárias com rena e as groselhas que comprei.

E agora vou ver se durmo um bocado... amanhã estou de folga, felizmente. A ver se após a sesta já consigo ter uma aparência mais humana, nem sei o que pareço com estes dias todos de trabalho e de pouco sono em cima.

Friday 30 July 2010

Chapter XVII - Shopping spree Helsingissä!

Passado mais um dia de trabalho, fui dar mais um passeio por Helsinki com a Jutta. E lá fiz algumas compras impulsivas... Não, nada de Lego!

Começámos pela livraria onde originalmente só iria comprar postais para responder a quem me tem escrito - serão enviados amanhã, deverão receber dentro de uma semana! Andamos por lá a circular pelas secções a 50% de desconto e deparei-me com um livro de proporções bíblicas sobre a cozinha regional nórdica. Contemplando a gastronomia finlandesa, sueca, dinamarquesa e norueguesa, foram os 13€ mais bem gastos do dia, pois o livro é não só um guia para os petiscos, como também será uma óptima maneira de eu estudar suomi, lingua em que foi escrito o livro por vários chefes de cozinha de toda a Escandinávia. Para me ajudar no estudo comprei algo que já tinha pensado, um dicionário Suomi - Englantia - Suomi, que o meu livro de suomi só tem 6 páginas de dicionário. Infelizmente este não estava em promoção, custou-me 10€... mas acho que é um acessório necessário. E como diz a minha mãe, o dinheiro gasto em livros nunca é dinheiro mal gasto *rolls eyes*

Dos livros seguimos para algo mais... digamos, fútil. Kalevalakoru: um grupo de joalheiros que produz joias baseadas no Kalevala, o livro da mitologia finlandesa. Or, according to some, "the book of necronomic spells". A Jutta já me tinha falado do quão emblemática e popular a marca é por aqui e aconselhou-me a visitar o site deles, pois certamente iria encontrar algo que me interessasse. E eu, muito bem mandado, assim fiz... Gostei imenso de um pendente com um urso e fiquei de olho nele. Quando fui à loja da Kalevalakoru no Kamppi há uns dias atrás, fiquei muito decepcionado, pois o dito pendente custava 89€, way too much money for me... Tirei um bocado a ideia da cabeça, mas hoje visitamos uma outra joalharia que tinha o tal urso à venda a 49€... e entretanto a empregada da loja disse que seria difícil arranjá-lo pois está a deixar de ser fabricado. Um pouco reticente devido ao preço, lá acabei por o trazer... Agora sim, posso dizer que encorporo o espírito shamanístico do urso, que já tinha em mim desde que provei as tais almôdegas!

Após uma pit stop no Stockmann para despejar as bexigas, seguimos até Katajanoka, o cais dos ferries da Viking Line, onde fui comprar o bilhete para a minha viagem à Estónia no próximo fim de semana. Vou sexta de manhã, passo a tarde em Tallinn, sigo para Käsmus para o Viru Folk Festival, passo por lá a noite na farra, de manhã volto para Tallinn para passear mais um bocado e à noite regresso a Helsinki no ferry. É tãooooo bom ter o meu International Student Card ainda válido desde os meus tempos da FLUL... tenho 50% de desconto em tudo quanto é sitio graças a ele! Anyway, no próximo fim de semana irei fazer um post dedicado à Estónia, com muitas fotos. Mas até lá ainda vou dando notícias por aqui.

Já ando a preparar a segunda parte da reportagem sobre a gastronomia daqui. Esta semana sou capaz de comprar mais carne de rena para experimentar mais umas receitas, bem como os ingredientes para fazer umas sobremesas. Para vos espevitar o apetite, deixo-vos com a receita de Rahka, um doce fresquinho e bom que me farto de fazer lá no hotel.

Rahka

5dcl natas bem frias
500gr Quark (não sei bem se isso se arranja em portugal, mas é uma espécie de yogurte/queijo cremoso e ácido)
Açúcar a gosto
Arandos QB (podem ser congelados, mas descongelem antes de misturar para que a água que eles libertam não estrague o doce)

Bater as natas e depois misturar bem num recipiente com o quark e o açúcar. Envolver as frutas levemente, deixando um efeito marmoreado com o branco do creme e o roxo dos arandos. Deixar no frio de um dia pró outro e comer bem fresquinho. Pode ser comido directamente, mas dado o quark ter a propriedade de fermentar, fica mais saboroso no dia seguinte.

E agora vou dormir, que amanhã trabalho! Tenho que fazer estes dias extra para poder passear mais à vontade no final.

PS: Já estou a escrever postais para responder a quem me enviou correspondência. Quem quiser um postal... que me mande um também! ;)

Monday 26 July 2010

Chapter XVI - Mais lusofonia e mais renas

Peço desde já desculpa pelo silêncio, mas ando cansado do trabalho. Ainda por cima agora vou começar a fazer turnos duplos para acumular folgas extra, para que em Setembro possa ir passear descansado...

Trabalho à parte, os últimos dias foram marcados por vários encontros de 3º grau com gentes lusófonas. Encontrei, por duas vezes, um grupo de brasileiros que estavam participando num campeonato de futebol juvenil aqui por Helsinki... o comentário mais marcante que ouvi deles é que estavam desesperados, pois em duas semanas ainda não tinham comido feijão! Também realço a lata de um dos míudos, que segundo o treinador deles me contou, e como pude confirmar visualmente, metia-se com tudo quanto era moça que encontrava e tirava fotos com elas LOL!

O outro contacto que tive esta semana com lusófonos foi no hotel. A Violetta, a chefe das empregadas de mesa, estava à rasca para falar com um grupo de supostos espanhois que não falavam inglês para lhes orientar o almoço, e como eu compreendo espanhol, lá fui à sala servir de intérprete. No entanto não eram espanhois, mas sim outro grupo de brasileiros. Desta vez, uma excursão de velhotes. Lá os orientei para a mesa deles e expliquei como era o buffet e lá ficou tudo satisfeito.

Por fim, hoje conheci o António, o barman português lá do Scandic, de quem já me tinham falado. Tem mesmo ar tuga... baixinho, cabelo grisalho puxado atrás e o típico e farfalhudo bigode. É um sujeito simpático, com ar de estar nos seus quarentas e picos. Já cá está há 6 anos e, citando o próprio, "prefiro aturar o frio e o escuro do que aquela miséria lá embaixo!". Ora nem mais!

On other news, este fim de semana andei a explorar as propriedades da carne de rena. Sexta fiz carbonara de rena fumada, que não estava grande coisa por causa das natas que usei, foram as primeiras que comprei quando cá cheguei e não sabia bem quais eram.





E ontem preparei um belo petisco: rena assada no forno com molho de cogumelos e arroz para acompanhar, que já ando farto de batatas.



Amanhã vou com a Jutta visitar o Suomen Kansallis Museo; Museu Nacional da Finlândia. Depois meto aqui fotos.

Saturday 17 July 2010

Chapter XV - A gastronomia finlandesa

Como prometido, hoje vou escrever sobre a gastronomia local, tendo em conta que cheguei apenas há 3 semanas e ainda existe muita coisa por explorar. Muitas das fotografias que aparecem neste post não são minhas por não ter tido oportunidade de fotografar os pratos em questão.

Começo com a maior surpresa que tive desde que cá estou: carne de urso. O senhorio, Pekka, arranjou alguma através de um amigo dele que é caçador, e sendo uma carne tão rara, trouxe-me duas almôndegas para eu provar. Não tem nenhum sabor específico ou marcante; até achei menos pronunciado que a carne de vaca. Mas esta carne tem muito que se lhe diga… para ser consumida, só picada, de outro modo é demasiado rija para se conseguir comer – daí as almôndegas. Tem que ser muito bem passada, pois trata-se de um carnívoro e por muito fresca que a carne seja, pode ser nefasta.

O que nos leva a um outro ponto: as regulamentações de caça aqui são muito restritas. Todos os animais abatidos têm que ser inspeccionados antes de poderem ser comercializados ou consumidos. A caça ao urso só é permitada em certas regiões em números muito baixos, pois apesar de no geral os ursos estarem vulneráveis em termos de conservação, na Finlândia há determinadas zonas onde os números aumentam. Os que são caçados são 5 a 10, apenas em áreas onde a população seja superior a 1000. Tenho também que realçar que aqui a caça é para alimentar a familia, não é por desporto.

Em jeito de trivia, em tempos pagãos, a caça ao urso era um momento sagrado e altamente ritualizado na vida dos caçadores, pois o urso sempre foi visto como um animal que fazia a ligação entre o mundo físico e o mundo espiritual.

Antes que me crucifiquem por questões éticas, sou o primeiro a comentar que todos os motivos descritos acima não são desculpa, de modo algum. Apenas explico os motivos. Foi-me oferecido a provar e não iria recusar, obviamente. De qualquer maneira, não faço tensões de comprar, pois nos raros supermercados onde existe congelada, os preços são superiores a 250€. Também existe, apesar de cada vez mais raro hoje em dia, carne enlatada, mas segundo o Pekka, “that is more like dog food than real meat”… Reforço ainda a ideia de que comer carne de urso é raro e cada vez mais raro, não nenhum hábito do dia-a-dia.

Continuando no tema da carne, vou falar brevemente da carne de rena, que é sem dúvida um ícone da gastronomia nórdica. Nos primeiros dias que cá estive provei almôndegas de rena, mas sinceramente não consegui apreciar o verdadeiro sabor, pois além dos temperos, a molhanga que faz parte do prato bloqueou-me o palato nesse sentido. Além das almôndegas, é servida salteada ou assada no forno, mas sobre isso irei elaborar mais à frente.

Outro tipo de carne que prolifera na Finlândia são as salsichas, a.k.a. makkara. Mas não são grande coisa… é mais farinha e conservantes do que carne, e praticamente só se vendem enchidos industriais, é raro encontrar-se produtos caseiros. Destaco a mustamakkara, mais um prato nacional, uma salsicha de sangue de rena comida com compota de frutos silvestres, mas ainda não provei.


Mustamakkara

Para terem ideia de como os finlandeses estão habituados às salsichas da treta, há uns dias assei uma linguiça alentejana na brasa e fui levar um bocado ao Pekka para ele provar. Ficou espantado porque aquilo tinha carne verdadeira lá dentro, imaginem! E gostou bastante! Quando cozer a farinheira que ali tenho levo-lhe um bocado pra ele provar.

Passando da carne para o peixe, aqui foi o sector que até agora me deu mais dores de barriga. É isso mesmo que vocês estão a pensar… o infame arenque! Arenque está para os países do Báltico como a sardinha está para Portugal. Ou seja, é consumido massivamente de todas as maneiras possíveis. Até agora provei quatro variedades de arenque, todas elas de conserva. Por ordem do que mais “gostei” para o pior: arenque com molho de mostarda, arenque com mayonese de ervas aromáticas, arenque fumado com mistura de pimentas, e o pior de todos… pickles de arenque. Eu já de mim não sou grande fã de peixe, mas juro que o arenque em vinagre quase me fez vomitar… E para terem ideia do quanto os nórdicos gostam de arenque, estas quatro variedades são servidas no buffet de pequeno almoço do hotel onde estou a trabalhar, e quando a sala fecha, as travessas estão completamente vazias!

Além do desgraçado do arenque, o salmão é outro peixe bastante popular por aqui, fresco ou fumado. Mas salmão come-se em qualquer lado, anyway. Um dos pratos de salmão que mais gostei é um dos pratos nacionais: lohikeitto, sopa de salmão. Deixo-vos a receita no final do texto, e aconselho a que experimentem fazer em casa e provem.


Lohikeitto

Passemos agora ao que mais gosto e mais como por aqui… Frutos silvestres. Morangos, mirtilhos, groselhas, framboesas, amoras… E o melhor de tudo: lakka. Estas últimas são umas bagas amarelinhas que crescem apenas em zonas sub-polares, como tal não têm tradução em português. O nome inglês é cloudberry, e é bastante adequado pois comer aquelas bagas é comer um pedaço de céu! Frescas ou em compota, como petisco ou parte de uma refeição, em doces e bolos ou ao natural, aqui existem muitas variedades de bagas e são todas muito boas. Os morangos têm um equilibrio entre o doce e o ácido perfeito, não tem nada a ver com os morangos que sabem a água a que estou habituado ai pra baixo. Mas comprá-los nos supermercados nem cães… 29€/kg! A sorte é que existem imensas barraquinhas espalhadas pela cidade onde se arranjam morangos e outras bagas a 3-5€/kg.

Continuando pelas sobremesas e pelos doces, os finlandeses não são muito dados ao açúcar. No entanto, ainda se vão encontrando umas coisas por aqui… O mais popular, e talvez o que tem maior tradição, é o karjalanpiirakka – pasteis da Karelia.
Trata-se de uma base de farinha de cevada recheada com uma espécie de arroz doce cá do sitio. É comido quentinho com munavoi, manteiga com ovo cozido picado. Pessoalmente não acho grande coisa, mas isto sou eu que quase todos os dias tenho que tirar 50-70kgs disto das caixas e meter para o forno…

Karjalanpiirakka

Uma sobremesa/petisco mais obscuro que provei por aqui chama-se leipäjuusto kanssa lakka. Trata-se de um queijo redondo, sem grande sabor, com molho de natas e canela quentinho por cima, e compota de lakka a acompanhar. O contraste do quente do molho com o fresco da compota é muito agradável. E ao que parece, o Gordon Ramsey não gosta muito disto.…

Leipäjuusto

Outros doces que existem em tudo quanto é sitio são as tartes e semifrios de fruta, sobretudo de bagas. Já provei umas tantas, mas geralmente são doses muito pequenas e bastante caras, fico sempre a querer mais…

Pela Páscoa é costumer comer-se mämmi, que é uma mistura de farinha de cevada com melaço, leite e raspa de laranja. Ainda não provei, mas gostava.

Para terminar, vou-vos falar do pior que já ingeri: salmiakki. São uns “rebuçados” semelhantes ao alcaçuz, mas salgado comá porra… Já tinha provado salmiakki simples há uns anos atrás e não lhe achei muita piada. A semana passada provei karamel salmiakki, a bordo do ferry da Suomenlinna e ia-me vomitando borda fora… aquela coisa tem o sabor mais horrível que possam imaginar. E sim, ainda pior que o arenque! No entanto, toda a gente adora salmiakki por aqui, é incrível! E fazem tudo com salmiakki… chocolates, vodka, tudo!

E falando de vodka… ontem comprei uma garrafa de Kossu. Kossu, ou Koskenkorva, é a vodka nacional da Finlândia, que sempre quis provar. Hoje após o almoço mandei um shot disto e até é agradável. Tem um travo adocicado, mas um sabor muito forte a etanol. Tenho que provar misturada, quando for aos bares de Helsinki.

Após escrever este post apercebo-me da riqueza cultural que já absorvi em menos de um mês. No final do Verão voltarei a fazer um apanhado de tudo o que provei e aprendi a fazer e certamente terei a mesma sensação. Afinal é como me dizem lá no hotel… “You have to try everything, even if it makes your stomach hurt!”

Despeço-me com duas receitas típicas daqui, o já falado lohikeitto e rena salteada.

Lohikeitto – Sopa de salmão

Óleo vegetal ou azeite
Cebola picada
Batata
Salmão cortado em cubos
Natas
Endro
Sal
Pimenta
Bagas de zimbro
Endro

Refogar a cebola no óleo com as bagas de zimbro. Quando estiver dourada, juntar água. Quando ferver, juntar as batatas. Triturar com a varinha mágica, temperar de sal e pimenta, adicionar as natas e o salmão. Assim que o salmão estiver cozido (não é preciso muito tempo), polvilhar com endro picado e servir.

Esta é uma sopa cremosa e bastante saborosa, da qual já provei duas versões diferentes: triturada ou com as batatas inteiras. A receita que aqui vos deixo é a que mais gostei, ambas são aceites dentro da gastronomia finlandesa. Também é costume usar outros peixes em vez do salmão, nomeadamente perca e outros peixes de água doce, que existem abundantemente nos lagos finlandeses. É um prato que serve de entrada ou constitui uma refeição por si só.


Rena salteada

Carne de rena cortada fininha
Manteiga
Sal

Saltear a carne na manteiga, sem deixar passar muito. Servir com puré de batata e com groselhas frescas esmagadas ou compota de groselha.

Como disse anteriormente, este é um dos pratos típicos da Finlândia, proveniente da Lapónia. A rena, tanto doméstica como selvagem, faz parte da culinária escandinava desde que os primeiros humanos aqui chegaram. Esta é a forma mais básica e tradicional de a preparar. O pastoreiro é, ainda hoje em dia, uma actividade económica bastante significativa, sobretudo para os Sami.



Fica ainda a fotografia deste prato que preparei para o almoço. Não tinha groselhas, foi com mirtilhos. A carne de rena é surpreendentemente macia e tenra, tem uma textura muito agradável. O sabor também é muito agradável, diria que entre a vaca e o borrego, com uns toques adocicados – daí complementar tão bem com as compotas. É também uma carne com menor teor de gordura que a carne de vaca ou porco, e com maior percentagem de proteína. Para mais informações, deixo-vos com este link que achei bastante informativo: http://www.inarinpaliskunnat.org/products.html


Friday 16 July 2010

Chapter XIV - Kauppatori

Mais um passeio muito agradável por Helsinki, tirando os 35º que se fizeram sentir. Desta vez fui ao Kauppatori, um mercado de tudo e mais alguma coisa, com destaque para os alimentos provenientes de pequenos produtores finlandeses. Está muito virado para os turistas, com imensas barraquinhas de souvenirs, mas os locais também andam muito por lá. Tirei umas quantas fotos para facilitar a reportagem, portanto façam favor de me seguir:


Após sair do trabalho, meti-me no eléctrico e fui até ao Kamppi, o maior centro comercial de Helsinki. Fui só ver as vistas, nada do outro mundo.

Tornei a apanhar outro eléctrico, seguindo até ao Kauppatori pela Aleksanterinkatu, a Rua Augusta de Helsinki, recheada de lojas, restaurantes de vários géneros, centros comerciais e muita, muita gente.


E chegando ao fundo da rua, temos a Senaatintori, a praça do Senado, um dos locais emblemáticos de Helsinki onde já tinha estado mas não tinha fotografado.

Chegando ao Kauppatori, tinhamos várias barraquinhas:


Artesanato em madeira e corno de rena...


Mantas, cachecois e outros agasalhos...



Peles de rena, raposa e arminho...



Frutas e legumes muito saborosos; as raparigas que estavam a tomar conta das barraquinhas eram muito simpáticas e davam sempre a provar antes de se comprar algo. Além de serem BEM mais baratos que nos supermercados, uma volta bem dada ao mercado dá pra se encher a barriga à pála eheh.


Terminando a volta ao mercado, entrei no Kauppatori Haali, que é a continuação dentro de um edifício construido em 1889. Aqui encontramos vários tipos de produtos...


Logo à entrada tinhamos estas coisinhas lindas a chamar por nós. Não resisti a gastar 2.50€ num bolinho cremoso de frutos silvestres, os segundos da direita da parte de baixo. It tasted just like heaven ^^ se não fossem tão caros tinha provado um de cada... but I'll be back!


Imensos tipos de peixe fumado...



E ainda mais tipos de queijo...


Ao ir embora ainda tirei esta fotografia às docas de Helsinki, banhadas pelo Báltico. Ao fundo vê-se a ilha Suomenlinna, à qual voltarei brevemente.


E no final trouxe isto tudo para casa. Kossu, carne de rena congelada que me custou 35€, morangos e mirtilhos cá da terra que são extremamente docinhos, ácidos e bons; e uma embalagem de carne de rena fumada.


Amanhã vou elaborar sobre a comida típica daqui, com o que já provei, o que gostei, o que não gostei e o mais importante de tudo: o que já aprendi a fazer.

Monday 12 July 2010

Chapter XIII - Meet the boss

Finalmente conheci o chefe, Jari Kettunen. Tem estado de férias e só regressou hoje. É um sujeito muito calado, típico finlandês. Mas quando abre a boca pra falar inglês, tá tudo lixado... tem um péssimo inglês, quando foi para me explicar o que fazer foi uma carga d'água pra eu conseguir perceber as coisas! É da maneira que começo a aprender suomi mais depressa...

On other news, estou a planear a minha visita à Estónia. Dias 6 e 7 de Agosto, em principio... pois desta maneira meto-me no ferry, 3h de barco até Tallinn, vejo a cidade, vou a um festival de folklore lá perto e no dia seguinte passeio mais um bocado e regresso a Helsinki. Vai ser uma experiência interessante.

Alguém que já tenha visitado me recomenda alguns pontos de passagem? So far tenho algumas recomendações para o centro histórico de Tallinn, incluindo monumentos e paparocas, cortesia do Gordo.

Sunday 11 July 2010

Chapter XII - Bodominjärvi & DIY

Hoje fui visitar o Bodom. É um lago situado perto de Espoo que ficou famoso à pála de uns homicídios misteriosos nos anos 60, e que deu origem à banda Children of Bodom. Após quase 2h a trocar de autocarros, lá cheguei ao sitio... No entanto, desiludiu-me um pouco. Tinha tanta gente que parecia uma praia no Algarve... lá procurei um cantinho mais sossegado pra ir ao banho, mas mesmo assim apareceram lá uns pescadores e depois mais uns grupos de pessoal. E a água apesar de mais quente que a do Meiko, era um pouco lamacenta. Com água pelos joelhos não conseguia ver os meus pés no fundo! Ah well... uns mergulhos, umas voltinhas pela floresta em guerra constante com os mosquitos e lá voltei para casa. Ainda andei à procura de umas pedras com inscrições pré-históricas que supostamente lá existem, mas não encontrei nada.

Lake Bodom

Mudando de assunto, sabem porque é que a generalidade dos nórdicos deixa crescer o cabelo? A resposta é muito simples... uma ida ao barbeiro aqui custa 25-30€, segundo me disseram. Eu que gosto tanto de andar de cabelo rapado... No entanto, arranjei maneira de poupar 25€ todos os meses. Vi uma máquina a 15€ no supermercado e trouxe a dita cuja comigo. Lá rapei o cabelo sossegado, e após várias passagens ficou tudo decente. É o espirito DIY no seu melhor! E agora posso começar eu a cobrar 25€ aos finlandeses para cortarem o cabelo eheh!

Thursday 8 July 2010

Chapter XI - Jutta & Suomenlinna

Hoje conheci pessoalmente uma pen pal e grande amiga minha, a Jutta. Trocamos correspondência e falamos online desde 2006 e foi giro conhecê-la pessoalmente. É uma sensação engraçada, estarmos com alguém pela primeira vez mas já sabermos muito sobre essa pessoa, quase como se nos conhecessemos já há vários anos.

Fomos visitar a Suomenlinna, uma ilha-fortaleza icónica na História da Finlândia. Foi fundada no séc. XVIII pelos "visitantes" suecos como defesa contra os russos. É um sitio muito agradável, a 15min de barco de Helsinki, onde se vê tanto turistas como locais a passear por lá. Infelizmente começou a chover à bruta e a trovejar e não ficámos lá muito tempo... mas irei lá voltar futuramente para mais umas fotos e uma visita mais atenta.

E a metereologia continua marada da cabeça por aqui... 30 e tais graus, hoje uma chuvada que causou inundações em vários sitios e uma trovoada valente. E supostamente prá semana ainda vai aquecer mais... Vim eu praqui a fugir do calor...

Enjoy the pics!


Helsinki vista do barco.


Uma parte da ilha; ao fundo vê-se a torre da igreja.


Partes da fortaleza.

A circundar a igreja e em várias partes da ilha encontram-se estes canhões, com uns 3/4m de altura.


Um sino russo junto da igreja.


Me & Jutta no barco de regresso a Helsinki, após uma chuvada valente.

Monday 5 July 2010

Chapter X - Tuska!

O maior festival de metal da Finlândia, e um dos maiores do mundo, tomou lugar este fim de semana no Kaisaniemi (parque central), Helsinki. Com os bilhetes esgotadíssimos há duas semanas, e sem saber que era este fim de semana, não tava com grandes ideias de ir... mas a Força esteve comigo e consegui bilhete para hoje - e a metade do preço! Paljon kiitoksia lipusta Vera!

Vamos por partes, comecemos pelo recinto. Nada a ver com os festivais portugueses a que estou habituado. Na entrada fazem revista a materiais perigosos e garrafas de vidro ou de bebidas alcoolicas. Sumos, águas, etc, podem entrar à vontade desde que em garrafa de plástico/tetrapack selada. Isto para evitar que os menores consumam álcool lá dentro. E quando digo que evita, evitam mesmo, pois existe uma área reservada a maiores de 18 e onde não entram nem saem garrafas onde estão as barraquinhas da cerveja e das restantes bebidas. Um sistema interessante, mas eficaz. Até porque a maioria dos bêbados ficava lá dentro a perder os concertos em vez de vir chatear o pessoal (tirando um gajo durante o concerto de Nile que só faltava começar a levar porrada daquela gente toda e dos seguranças...).

Além das habituais barraquinhas de merchandising de bandas e lojas locais, achei interessante a presença de um pequeno flea market, onde sobressaiam as roupas militares e cybergó - óculos de "natação" apenas a 15€, essas coisas costumam ser exorbitantemente caras, segundo consta!
A comida era cara comó caralho, apesar dos preços não fugirem muito às lojas de fastfood daqui. 5-7€ um prato (kebab com arroz, tex mex, cachorros quentes, batatas recheadas, makkara (salsichas cá da terra) e uns stir-fries vegetarianos. Garrafas de água de meio litro a 2€ e de sumo a 2,50€... o bom é que havia um posto com torneiras de água (fresca!) onde o pessoal podia beber e encher à vontade. O preço da cerveja não sei, não cheguei a ir a essa parte do recinto porque não queria ficar sem a garrafa de água que me custou 2€...

Os palcos estavam bem organizados e o som não era mau de todo, para este tipo de concertos. Tinham dois palcos secundários cobertos em pontas opostas do recinto, a ladear o palco principal. Para terem ideia da coisa, os palcos secundários eram do tamanho do palco principal do SWR... o main stage era enorme, como poderão ver nas fotos. Pontualíssimos ao segundo, como tudo aqui pelas terras nórdicas, até se estranha!

Pontos maus: muito pó, à la Vilar de Mouros quase... E era proibido fazer crowd surfing ou sequer estar encavalitado em cima de alguém! Bem que me fodi, que sou baixinho e tinha que me meter em bicos de pés para conseguir ver Cannibal Corpse em condições...

Vista geral do festival durante WASP

Quanto às bandas...

Finntroll - bailarico do caraças, do principio ao fim! Já é a terceira vez que os vejo, mas sinceramente não me canso deste tipo de bandas. Houve comboio, chicken dance, outras danças estranhas, wall of death, circle pit...

WASP - não liguei muito, teve uns solos girinhos e tal mas de resto... fui foder 7€ no kebab que até me soube bem, estava bem condimentado. Nesta onda preferia ter visto Twisted Sister ^^

Warmen - banda local de speed metal progressivo, com bastante pinta. Não gostei muito da vocalista que andou por lá a cantar duas músicas, mas o lead singer dava-lhe bem. Surpresa surpresa foi o Alexi Laiho dos Children of Bodom ter aparecido para cantar com eles a última música! E maior surpresa foi ele estar vestido à hippie!

Cannibal Corpse - Porradaria do principio ao fim, como seria de esperar! Não vi tudo, pois perto do final fui pro palco secundário esperar por Nile, mas destaco a I will kill you e a Devoured by vermin. Presumo que tenham acabado com a Hammer smashed face, mas não tenho a certeza.

Nile - *vénia* a minha principal razão de ter ido ao Tuska, que apesar de tudo deram um show do caraças. Velocidade, técnica, melodia e brutalidade Q.B. do principio ao fim. No entanto pecam em dois pontos: muito parados em palco (coisa que até compreendo tendo em conta que são 3 agarrados à guitarra e a cantar ao mesmo tempo e um baterista que tá ali a malhar que nem uma besta atrás de meia tonelada de pratos e timbalões) e a setlist... Focaram muito do novo album, até ai tudo bem, mas deixaram de fora uns musts... Unas, Cast down the heretic, Sacrifice unto Sebek, Execreation text... Quando os vi no Caos Emergente 2008 tinham uma melhor setlist, se bem que aqui tocaram mais que uma hora e eram headliners.

Megadentes - vão-se foder, não gosto daquilo e vim embora ^^

Não comentei outras bandas porque não as vi. Sei que uma era industrial, que tocou ao mesmo tempo que Fintrolhas, e outra era tipo metalcore. E aqui era tipo Wacken, o pessoal fazia as wall of deaths sem precisarem de indicações das bandas.. quando lhes apetecia, abriam dum lado e doutro, meio a meio duma música, e toma lá disto!

Afterparty pra nós não houve. Ainda se falou em ir a uns bares, até porque com o bilhete do concerto tinhamos entrada à pála, mas além do cansaço do Marko que já lá tava desde sexta, chegamos à conclusão que a maioria do pessoal que ali estava ia para os bares e era demasiada gente. Vim para a minha casinha descansar, aproveitar que amanhã estou de folga, e ele ainda lá ficou com um amigo a ver Megadentes. De notar que os concertos começaram às 14.45h e terminaram às 21.30h. Assim dá pras bandas tocarem e o pessoal apanhar transportes para casa à vontade, e quem quiser vais pras after parties.


Friday 2 July 2010

Chapter IX - They're everywhere!

Incrível... hoje saio do trabalho, vou apanhar o eléctrico quando um grupo com tshirts do Inatel se dirige a mim.

- Speak english?
- Erm.. são portugueses?
- ZOMG UM PORTUGUÊS! UM PORTUGUÊS! UM PORTUGUÊS! YAYYYYYYYY!

Fizeram uma festa do caraças por verem um português no meio de Helsinki... Ora trata-se de um grupo que está na Estónia num campeonato de desporto amador e vieram passear à Finlândia. Queriam ir ao Suomelinna, uma ilha-fortaleza à qual irei prá semana, e eu lá lhes expliquei como é que lá iam ter. Assim que entrámos todos pro eléctrico, começou o espirito tuga a vir ao de cima...

- Não tem picas? Ah atão podemos andar sem pagar bilhete!

*facepalm*

... mas não foi tudo. Quando saímos no centro da cidade, veio outra típica pergunta tuga:

- Onde é que podemos comprar lembranças?

Lá os enfiei pro Stockmann, mas pelos vistos já lá tinham estado. Entretanto de conversa com alguns, descobri que são de Viana do Castelo e que inclusive alguns estiveram presentes na exposição Arte em Peças, em Paredes de Coura. Mundo pequeno... lá me meti no comboio pra Leppäväära a caminho de casa e lá os deixei a passear.

Tou pra ver se sempre for à Lapónia, mais no final do Verão... se encontrar lá algum português, passo-me!

Este fim de semana espera-me muito trabalho. Troquei as folgas, trabalho durante o fim de semana, descanso na segunda feira e guardo a outra folga para no final do estágio ter maior tempo livre para ir passear. Pelo menos a maioria das folgas penso guardar. Também já me disseram que se quiser posso fazer turnos duplos, ou seja, entrar de manhã e sair à noite. Talvez para a semana experimente isso. De 200 e poucas pessoas que têm lá estado durante esta semana, o hotel vai receber 1100, estando muito perto de esgotar a sua capacidade (1200). Citando o Chefe António Marques... "tirem os dedos do cú!"

Thursday 1 July 2010

Chapter VIII - Sauna

Finalmente experimentei a sauna! Sabe muito bem, é muito relaxante. Para os leigos, aqui fica uma descrição do processo:

Primeiro, acender o lume na salamandra. Fechar a porta e esperar que a temperatura chegue pelo menos aos 70º (ainda demorou uns 15min a aquecer). Enquanto isso, prepara-se um balde com água e as coisas para depois tomar banho. Quando o termómetro estiver na temperatura desejada, toca a tirar a roupa (mesmo em saunas públicas costuma-se ir sem roupa, e sim, ambos os géneros juntos na maioria dos casos) e ir lá pra dentro.

Vai estar MUITO quente quando entrarem, mas não atirem logo a água toda por cima das pedras, pois provoca muito vapor ao mesmo tempo e são capazes de se sentir mal se não estiverem habituados. Eu fui deitando aos poucos e aguentei-me lá 10 minutos, no primeiro round. Um detalhe importante: a sauna tem uma bancada com pelo menos dois degraus. Se se sentarem no de cima, vai estar MUITO mais quente do que se se sentarem num mais baixo. Aprendi isso por experiência própria.. uns segundos lá em cima e rapidamente voltei para a parte de baixo :x

Quando acharem que sim, saiam da sauna e metam-se debaixo do chuveiro de água fria, depois voltem lá pra dentro. Repitam o processo as vezes que quiserem. Eu entrei lá pra dentro três vezes, com duas chuveiradas frias pelo meio. Aguentei-me 10min em cada vez, e 5min na terceira, depois fui-me lavar.

E como bom alentejano que sou, há que aproveitar as coisas... já que tinha o lume aceso na salamandra, abri a portinhola e meti uma linguiça das que trouxe comigo a assar nas brasas enquanto estava a tomar banho! Foi o jantar, com pão finlandês, banana, morangos e lête com chiclate. Levei um bocado da linguiça assada ao Pekka, o senhorio, que estava na varanda dele a apanhar sol... e o homem adorou! Ficou supreendido por ter carne verdadeira lá dentro, aqui as salsichas têm tudo menos carne, e já lhe disse que quando fizer algum petisco alentejano que lhe levo um bocado pra ele provar.

Numa pequena conclusão acerca da sauna, além de relaxante, faz muito bem à pele, pois o vapor abre e limpa os poros. Os choques com a água fria fazem bem à circulação, e voltar lá pra dentro molhado em água fria é uma sensação agradável. Hoje em dia a sauna tem uma conotação um pouco elitista, agregada aos spas e às esteticistas, mas surgiu como hábito de higiene e ocupa um lugar muito próprio dentro da cultura finlandesa. Durante muitos séculos, a Finlândia foi uma terra pouco evoluida (basicamente até ao final da Idade Média europeia eles estavam na Idade da Pedra), mas o que é certo é que enquanto o resto da Europa chafurdava nos próprios excrementos, os finlandeses andavam limpinhos e quentinhos graças à sauna.

E acho que descobri porque é que as finlandesas são tão bonitas. O segredo está na sauna, como faz tão bem à pele, dá-lhes um aspecto mais suave e atraente. Este fim de semana irei conhecer algumas nativas, que o Marko vai-me levar a uns bares, vamos lá a ver se as que andam nos bares têm a beleza que as que vejo nas lojas e nas ruas têm ;)